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No dia 3 de julho de 1823, o Rei D. João VI atribui a D. José Luís de Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos, 6º Morgado de Mateus, o título de 1º Conde de Vila Real. É o reconhecimento do seu envolvimento na Guerra Peninsular, na qual foi ajudante de Ordens do Marechal Beresford, mas sobretudo pela lealdade demonstrada ao campo realista nos primeiros anos que se seguem à Revolução Liberal.
Militar, diplomata e estadista que marca a primeira metade do séc. XIX português, D. José Luís foi uma personalidade complexa, capaz de fazer pontes entre contrários, de defender os interesses da coroa portuguesa nas capitais europeias mais importantes e envolver-se na resolução de questões decisivas como a abolição do tráfico de escravos ou a resolução junto das potências europeias das questões levantadas pela declaração de independência do Brasil em 1822.
D. José Luís de Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos nasceu no dia 9 de fevereiro de 1785, filho de D. José Maria de Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos, 5º Morgado de Mateus, e D. Maria Teresa de Noronha. A morte prematura de sua mãe, alguns meses depois, determinou que boa parte da sua educação ficasse a cargo de sua avó, D. Leonor de Portugal. Casou em Madrid, no dia 27 de Agosto de 1811, com D. Teresa de Sousa Holstein, filha de D. Alexandre de Sousa Holstein e de D. Isabel de Sousa Coutinho, na sequência de alvará de licença concedido pelo Príncipe Regente D. João.
Destinado por seu pai à carreira forense, licenciou-se em Direito na Universidade de Göttingen, no reino de Hannover, uma das mais prestigiadas universidades europeias de então. Porém, a vocação militar herdada das gerações anteriores haveria de prevalecer e de revelar-se de importância maior num período bastante conturbado da história de Portugal e da Europa. Assenta praça no Regimento de Cavalaria de Alcântara no dia 3 de Abril de 1802, com apenas 17 anos. É sucessivamente promovida a tenente, em 1807, capitão, em 1809, e a major, em 1811. Entretanto, em 1809, na sequência da segunda invasão francesa, torna-se ajudante de Ordens de William Carr Beresford, marechal do Exército Português que combateu as forças napoleónicas ao lado de Arthur Wellesley, 1.º Duque de Wellington, comandante das forças inglesas.
Em 1814, é nomeado Ministro Plenipotenciário em Madrid, onde permanecerá até 1820. Neste último ano substitui o marquês de Palmela como ministro de Portugal em Londres. É aí que toma conhecimento da Revolução Liberal, que eclode no Porto, a 24 de Agosto de 1820 e rapidamente se estende a todo o país. Legitimista, também na tradição familiar e por uma particular consciência de dever de lealdade para com a Coroa, situa-se inicialmente no campo absolutista. A partir de Londres, mobiliza-se junto da coroa britânica para fazer saber ao governo revolucionário de Lisboa que as potências europeias só reconheceriam as cortes convocadas segundo as leis antigas do reino e que não aceitariam quaisquer ingerências espanholas.
Demitido do seu posto pelo governo liberal em 1822, regressa a Mateus. Pouco depois, em fevereiro de 1823, envolve-se na Revolta de Vila Real, rapidamente dominada pelas forças liberais. Exilado em Salamanca, as suas tropas, junto com as do Conde de Amarante, servem de retaguarda à ameaça de sublevação militar protagonizada pelo absolutista infante D. Miguel poucos meses depois, que ficaria conhecida como Vilafrancada. No dia 25 de junho, é renomeado Ministro Plenipotenciário em Londres. A 3 de julho, o Rei D. João VI atribui-lhe o título de 1º Conde de Vila Real. No dia 20 de agosto é nomeado Coronel do Regimento de Cavalaria 10, em documento assinado por D. Miguel, agora Comandante em Chefe do Exército Português, e é promovido a brigadeiro do Exército. No entanto, a carreira diplomática que, mais tarde, se tornaria numa longa e frutuosa carreira política, já tinha tomado a dianteira no seu percurso.
Quando, no dia 1 de junho de 1825, morre o pai, D. José Maria, o 5º Morgado de Mateus, D. José Luís fica senhor dos Morgados de Mateus, da Cumieira, de Arroios, de Sabrosa, de Moroleiros e de Fontelas, o que o transforma num dos homens mais ricos do país. Será provavelmente essa independência que lhe permitirá trilhar um caminho singular na conturbada política portuguesa das três décadas seguintes. Em 1826, regressa a Portugal para tomar assento, pela primeira vez, na Câmara dos Pares. No ano seguinte, acompanha o regresso do infante D. Miguel do seu exílio em Viena e assume a pasta da Guerra. No entanto, pouco depois, em discordância com os excessos do campo absolutista, resigna e radica-se em Paris, onde permanecerá até 1833.
Quando regressa, é já no campo liberal, neste momento já não mobilizado pelos radicais da revolução de 1820, mas redefinido como movimento cartista. Retoma o seu lugar na Câmara dos Pares e assume, nos anos seguintes, em diferentes governos, as pastas dos Negócios Estrangeiros, da Marinha e do Ultramar e dos Negócios da Guerra. Em 1836, na sequência da revolta Setembrista, afasta-se transitoriamente, regressando em 1939 para integrar o 11.º governo constitucional liderado pelo conde do Bonfim. Exerce por várias vezes, em 1843 e 1844 o cargo de Presidente da Câmara dos Pares.
Até 1846, continua ativamente envolvido na política nacional, sempre numa linha de realista moderado, capaz de compromisso entre as diferentes fações. Nesse ano, abandona de novo o país, onde apenas regressará episodicamente em 1854 para um notável discurso, formulado na Câmara dos Pares, em defesa da Carta Constitucional de 1826. No ano seguinte, em 1855, é nomeado Ministro Plenipotenciário em S. Petersburgo, onde virá a morrer alguns meses depois, a 26 de setembro.
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