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Ao longo de todo o mês, tomamos a poesia como tema e como impulso para uma interrogação incessante sobre as formas de reconstrução de nós mesmos e daquilo que nos rodeia. Uma vez por semana, poetas e amantes da poesia, entre Nuno Júdice, António Gonçalves, José Eduardo Reis e outras surpresas que se lhes juntarão, falam-nos e mostram-nos, dão-nos a ouvir o seu trabalho, ou partilham connosco a sua visão particular da matéria poética.
Poemas
Segunda-feira (25/05)
Kenneth Koch
A Magia dos números e outros poemas
Tradução Coletiva (Mateus, Junho de 1991) revista, completada e apresentada por Pedro Tamen com a declaração de Ana Hatherly
PERMANENTEMENTE
Um dia os Substantivos estavam apinhados na rua.
Passou um Adjectivo, com a sua morena beleza.
Os Substantivos ficaram impressionados, comovidos, mudados.
No dia seguinte apareceu um Verbo, e criou a Frase.
Cada Frase diz uma coisa — por exemplo: «Embora estivesse um dia escuro e
[chuvoso quando o Adjectivo passou, hei-de lembrar-me da pura e doce
[expressão do seu rosto até ao dia em que me desvaneça da verde e
[eficaz terra.»
Ou: «Não te importas de fechar a janela, André?
Ou, por exemplo: «Obrigado, o vaso cor de rosa com flores, no parapeito da janela,
[mudou recentemente de cor para um amarelo claro, devido ao calor da
[fábrica de caldeiras aqui perto.»
Na Primavera as Frases e os Substantivos estavam em silêncio deitados na relva.
Uma Conjunção solitária clamaria aqui e ali: «E! Mas!»
Mas o Adjectivo não surgiu.
Tal como o adjectivo está perdido na frase,
Assim eu estou perdido nos teus olhos, ouvidos, nariz e garganta
– Enfeitiçaste-me com um só beijo
Indestrutível
Até a destruição da linguagem.
Terça-feira (26/05)
Demóstenes Agrafiotis
Sombras oblíquas
Tradução colectiva (Mateus, Outubro de 1992) revista e apresentada por Fernando Echevarría
MÁSCARAS
Passos
no dobrar da inocência
no interior da interpretação.
Risos e choro
soluço e veias no nosso evoluir.
Uma frieza brilha nas máscaras.
DEFINIÇÕES
Posso definir as palavras
como explosões de silêncio
ou eco da expectativa
ou hiatos abertos pelas acções
ou moléculas do futuro,
o eu reflectindo-se ao longo
da sucessão.
Quarta-feira (27/05)
Philip Levine
A pura verdade
Tradução Coletiva (Mateus, Junho 1991) revista e apresentada por Maria de Lourdes Guimarães
QUARTA-FEIRA
Poderia dizer que o dia começou
por detrás da Sierra;
na ramagem das laranjeiras a escada
a meio caminho das estrelas deu
uma sombra, e os frutos
orvalhados vestiram
a sua cor, luzidios
como um globo de fogo,
e quando acordei
estava só, e o quarto
silencioso, as paredes brancas,
o tecto branco, o enodado
soalho prenderam-me até
me sentar e agarrar
primeiro um copo
de água choca para soltar a língua
e, a seguir, o relógio de pulso comprado
antes de teres nascido e, quando as folhas batiam
contra a janela
a e poeira subia dourada no cálice do ar,
eu dei-te este nome.
Quinta-feira (28/05)
John Ashbery
Uma onda e outros poemas
Tradução colectiva (Mateus, Junho de 1991) revista, completada e apresentada por João Barrento com a colaboração de Richard Zenith
PARADOXOS E OXÍMOROS
Este poema ocupa-se da linguagem a um nível muito simples.
Olha como fala contigo! Tu olhas pela janela
Ou finges estar nervoso. Já o tens, mas não o tens.
Passas-lhe ao lado, passas-te ao lado. Passam ao lado um do outro.
O poema está triste porque quer ser teu e não consegue.
O que é um nível simples? É isso e outras coisas,
Que ele põe em jogo formando um sistema. Jogo?
Bom, no fundo é isso, mas jogo para mim é
Uma coisa exterior mais funda, papéis assumidos em sonhos,
Como na distribuição das graças nestes longos dias de Agosto
Sem prova. Em aberto. E antes que o conheças
Ele perde-se nos vapores e no matraquear das máquinas de escrever.
O jogo foi jogado uma vez mais. Penso que só existes
Para me desafiar e fazê-lo, ao teu nível, e depois não estás lá,
Ou assumiste outra atitude. E o poema
Deitou-me suavemente a teu lado. O poema és tu.
Sexta-feira (29/05)
John Ashbery
Uma onda e outros poemas
Tradução colectiva (Mateus, Junho de 1991) revista, completada e apresentada por João Barrento com a colaboração de Richard Zenith
ECO TARDIO
Sós com a nossa loucura e a flor preferida,
Vemos que não há mais nada sobre que escrever.
Ou antes, é preciso escrever sobre as mesmas coisas de sempre,
Do mesmo modo, repetindo vezes sem conta as mesmas coisas,
Para que o amor continue e a pouco e pouco vá mudando.
Colmeias e formigas têm de ser eternamente reexaminadas
E a cor do dia aplicada
Centenas de vezes e variada do verão para o inverno
Para que o seu ritmo desça ao de uma autêntica
Sarabanda e ela aí se feche sobre si mesma, viva e em paz.
Só nessa altura a crónica desatenção
Das nossas vidas nos poderá envolver, conciliadora
E com um olho posto naquelas longas opulentas sombras amareladas
Que falam tão fundo para o nosso mal preparado conhecimento
De nós próprios, máquinas falantes dos nossos dias.
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